Adoro dias de chuva! Aliás, eu adoro os dias!!! Mas existe alguma coisa de epifania na água escorrendo do céu. E não sei se por romantismo ou porque tenho uma certa necessidade de encantar a vida, acredito que a chuva traz o novo, assinala a mudança…
Mas "O padrão do clima do planeta mudou", lembra o professor Marcelo Leite, em sua crônica para A Folha de São Paulo. “O clima e os brasileiros serão menos amigos, simplesmente”, diz o sociólogo.
E eu até podia imaginá-lo pensativo e triste, abanando a cabeça enquanto escrevia…
É verdade, está chegando o dia em que não vamos mais poder simplesmente apreciar os dias de chuva…que absurda loucura afinal!
Para nossos ancestrais, a chuva era uma interferência divina explícita, puro milagre que fecundava os campos a garantia a vida…para eles, a chuva era sêmen divino e as histórias e lendas que criaram falam todas deste instante mágico em que a semente divina chove sobre a terra…
É como chuva de ouro que Zeus, o deus grego dos trovões e dos raios, seduz e engravida a bela princesa mortal Dânae presa em sua torre enquanto, do outro lado do mundo, Tlaloc o deus azteca das tempestades, envia sua chuva de fogo para deslumbrar os humanos com seu poder…
Os anjos desciam à Terra nas gotas de chuva, ensinavam os místicos do Islã; sim, diziam os sábios hindus, seres espirituais faziam o longo caminho da Lua à Terra dissolvidos na água do céu…além de fecundar a terra, a chuva nutria o espírito dos seres com a sabedoria divina!
Muitos milênios depois…o que houve conosco?
Engraçado pensar que o maior desafio humano sempre foi compreender o Universo. E todas essas histórias e mitos falam a seu modo dessa perplexidade e encantamento.
Ao contrário de nós, no entanto, nossos ancestrais mais primitivos “sabiam” que não havia nada “fora” da Natureza. Viviam imersos nas forças criativas e destrutivas que orquestravam o universo.
“Sabiam” que toda energia que os cercava, os seres com os quais compartilhavam o mundo, eles mesmos, seus corpos, seus filhos e suas obras, tudo era parte do “Grande Todo”…
O que houve conosco que insistimos em nos imaginar de um impossível “lado de fora” e transformamos a Natureza em nosso pior inimigo!
Que triste vai ser quando os humanos não puderem mais ser amigos das chuvas!
Adília Belotti